A Arte de Ser Avó
“(...) às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor.
“(...) às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor.
A avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do
imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas.
Leva a passear, 'não ralha nunca'. Deixa lambuzar de pirulitos. Não
tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o
último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de
rebeldia.
E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o
castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir
abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade...”
Rachel de Queiroz
(O brasileiro perplexo, 1964.)
(O brasileiro perplexo, 1964.)
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